SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Vila dos Idosos, prédio da prefeitura destinado para a moradia de pessoas com mais de 65 anos de baixa renda, tem atualmente cerca de um terço dos apartamentos vazios apenas 98 das 145 unidades estão ocupadas.
O número é confirmado pela gestão Ricardo Nunes (MDB), que afirma que apesar disso, o projeto está mantido e não vai ser descontinuado.
“O Programa de Locação Social, ao qual pertence a Vila dos Idosos, está em pleno funcionamento e é destinado à garantia do direito à moradia, com foco na autonomia e na convivência comunitária”, diz a nota.
Questionada, a prefeitura não explicou o motivo do empreendimento ter quase um terço das unidades vazias. Também não respondeu sobre qual é a demanda para morar no local e há pessoas na fila.
Uma placa da prefeitura e da Cohab (Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo) indica obras de manutenção preventiva e corretiva nas instalações, que ficam no Pari, na região central da cidade. O início das obras foi em 18 de dezembro de 2024 e prazo de conclusão era de quatro meses, com um custo de R$ 1,4 milhão. Na última terça-feira (10), quase dois meses depois do prazo previsto, as obras seguiam em andamento.
A prefeitura ite que o prédio está em obras, mas não explica o motivo dos atrasos.
Para ter direito a morar no local a pessoa precisa ter mais de 60 anos, ganhar até o teto de três salários mínimos e não ter participado de outros programas sociais de Habitação. O idoso paga um valor que varia de 10% a 15% do valor da aposentadoria ou benefício de prestação continuada (BPC), além de uma taxa de condomínio. É a própria Cohab que faz o encaminhamento das pessoas para morarem no prédio.
Os moradores apontam que alguns apartamentos chegam a ficar mais de ano fechados depois que os antigos ocupantes morreram, sem que os objetos pessoais tenham sido sequer retirados. Segundo a prefeitura, 14 unidades “encontram-se em trâmite para manutenção”.
Um dos elevadores, logo na entrada do conjunto, está quebrado faz um mês e a previsão é que o conserto, segundo moradores, demore, pelo menos, mais três meses. Segundo a prefeitura, há um contrato de manutenção dos elevadores, sendo que dois estão em atividade e outro em processo de modernização.
Criada na gestão Marta Suplicy (PT) e inaugurada pelo então prefeito Gilberto Kassab (então no DEM, hoje no PSD), em 2007, a Vila dos Idosos é a primeira unidade de um projeto de atendimento à demanda habitacional deste público. Principalmente para aqueles que mantêm um alto nível de autonomia, não têm parentes próximos e podem morar sozinhos.
A prefeitura, no entanto, segundo relatos, tem demonstrado dificuldade de tratar da mudança de status de alguns moradores, que perdem a autonomia e acabam desamparados dentro de seus apartamentos.
Uma moradora de 88 anos foi internada no dia 7 de março, no pronto-socorro do Tatuapé, e teve alta dois meses e meio depois. Segundo vizinhos, ela foi levada de ambulância e deixada em seu apartamento com a autorização da portaria da vila.
A partir de então, ou a depender dos outros moradores para suas refeições e tomar remédios, porque não tem condições de caminhar. Suas pernas estão bastante inchadas e com manchas vermelhas de derrames.
Como não tinha retirado os benefícios previdenciários nos meses anteriores, ela teria que ir pessoalmente regularizar a situação, mas os vizinhos não conseguem retirá-la da cama.
A mulher conta que está na vila desde a inauguração. Aposentou-se depois de trabalhar como cabeleireira e na limpeza de casas de famílias. Solteira, sem filhos nem outros parentes próximos, morava em quartos de pensão, porque não tinha condições financeiras de morar em um apartamento até se tornar beneficiária do programa.
Uma vizinha conta que teve dificuldades de conseguir que a idosa asse a receber atendimento diário do Programa de Atendimento de Idosos (PAI) e que, diante da gravidade da situação, a presença uma vez ao dia é insuficiente. Além dos dois horários de medicação, ela necessita de apoio na hora das refeições e reclama da solidão de ficar sozinha no quarto o dia inteiro. Diz que este caso não é o único dentro da vila.
A prefeitura afirma que, além do PAI, a paciente é acompanhada pela Equipe de Estratégia Saúde da Família (ESF) todos os dias da semana.
A gestão Nunes diz ainda que, no mesmo dia em que foi questionada pela Folha, a paciente recebeu “a visita de um Acompanhante de Idoso (AI) e um auxiliar de enfermagem e está em andamento processo para sua transferência para uma Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI)”. Não divulgou nenhum prazo para que isso aconteça.